segunda-feira, 31 de março de 2014

Adubação de pastagem na prática.

Para comprovar que a reforma de uma pastagem corrigindo e adubando não fica tão caro quanto se pensa vamos fazer um demonstrativo utilizando uma análise de solo retirada em uma propriedade em Bataguassu, MS.

Análise
pH
P
MO
K
Ca
Mg
Ca+Mg
Al
H
H+Al
S
T
V%
água
mg/dm3
g/dm3




Cmol/dm3




%
5,17
0,52
9,91
0,03
0,60
0,40
1,00
0,29
1,17
1,46
1,03
2,49
41,37

Pela análise podemos perceber que o pH está ácido e que os níveis de fosforo e potássio estão abaixo da média, além de que o alumínio tóxico está presente. Para corrigir isso devemos corrigir e adubar o solo para depois replantar o pasto, e faremos isso da seguinte maneira:
                             1)    Calagem:

Necessidade de calcário = 2*Al+[2-(Ca+Mg)]
Necessidade de calcário = 2*0,29+[2-(1)]
Necessidade de calcário = 1,58 toneladas por hectare
                      
                        2) Fosforo:
 O recomendado pela literatura para o nível encontrado na análise (0,52 mg/dm3) é de 80 Kg de P2O5 por hectare. Através de uma regra de 3 simples podemos descobrir a quantidade do fertilizante MAP que devemos utilizar.

100 Kg de MAP ----- 52 Kg de P2O5
X     Kg de MAP ----- 80 Kg de P2O5
X = 153,85 Kg de MAP

                      3) Potássio:
                  Para o nível de potássio encontrado na análise de solo (0,03 cmolc/dm3) a literatura recomenda a utilização de 60 Kg de K2O por hectare, e da mesma maneira como fizemos no fosforo podemos encontrar a quantidade do fertilizante cloreto de potássio (KCl) que iremos utilizar.           
100 Kg de KCl ----- 60 Kg de K2O
X     Kg de KCl ----- 60 Kg de K2O
X = 100 Kg de Kcl

                     4) Nitrogênio:
                   Iremos utilizar nesse caso 60 Kg de nitrogênio por hectare, sendo que desses, 15,4 Kg virão do MAP que contém 10% de N e os outros 44,6 virão de 2 aplicações de 50 Kg ureia cada.
                    Dessa forma, temos um total de:

Produto
Quantidade
Custo unitário (reais)
Custo total
Calcário
1,58 t
110
R$ 173,80
MAP
153,85 Kg
1,7
R$ 261,55
KCl
100 Kg
1,5
R$ 150,00
Ureia
100 Kg
1,38
R$ 138,00
Sementes
15 Kg
11
R$ 165,00
Total
R$ 888,35

            Para a aplicação desses produtos iremos ter custos, que são apresentados da seguinte forma:
 
Serviços
Custo
Construção de terraços
R$ 120,00
Distribuição de calcário
R$ 50,00
Grade intermediária
R$ 100,00
Distribuição de adubos
R$ 50,00
Niveladora
R$ 60,00
Semeadura
R$ 50,00
Grade Fechada
R$ 50,00
Distribuição de adubos
R$ 50,00
Distribuição de adubos
R$ 50,00
Total
R$ 580,00

                 Somando os custos de produtos e serviços temos um total por hectare de:

Produtos
R$ 888,35
Serviços
R$ 580,00
Total
R$ 1.468,35

Levando para o campo tudo isso, em uma área onde antes colocava-se no máximo uma unidade animal por hectare, podemos alcançar uma média de 2,2 unidades animal ou até mais. Lembrando que nas épocas das chuvas esse número aumenta muito. Ou seja, o produtor consegue mais do que dobrar a quantidade de animais que tinha ali.
                       Além do aumento da taxa de lotação, teremos um aumento na produtividade dos animais, que estarão comendo forragem de maior qualidade e em muitos casos, teremos também descansos de outros pastos na propriedade, que poderão ser vedados, uma vez que o pasto reformado tem capacidade de suportar mais animais.
Com base nos dados apresentados acima, é fácil de perceber que é sim, economicamente viável investir em adubação das pastagens, e que a própria pecuária consegue cobrir os custos da reforma em poucos anos.
                  Esse caso apresentado é de uma área que precisava ser reformada, por apresentar grande infestação por plantas daninhas e pastagem “rapada”, porém, em casos de pastos com baixa infestação de plantas daninhas e que for constatado pelo engenheiro agrônomo que uma recuperação é suficiente, os custos caem bastante, ficando ainda mais atrativa a pratica.

Adubação de pastagem.

O Brasil possui, segundo o censo realizado pelo IBGE em 2006, pouco mais de 172 milhões de hectares de pastagens, área equivalente à aproximadamente 4,8 vezes o estado do Mato Grosso do Sul. Do ponto de vista geográfico é um dado impressionante, mas quando paramos para pensar que grande parte dessas pastagens está degradada, esse dado já não é mais tão bonito assim.
            Uma área de pastagem degradada pode ser definida como aquela que produz abaixo do considerado ideal para a sua espécie e isso pode ocorrer por diversos motivos, como o manejo inadequado do solo e da lotação animal e pode acarretar em problemas como erosão, comprometimento do rebrote da gramínea e invasão de plantas daninhas.
            Não é preciso analisar dados científicos para comprovar o péssimo estado das pastagens no Brasil, para isso, basta olhar pra fora do carro quando for viajar. É muito difícil de se achar áreas com pasto bonito, sem plantas daninhas e é cada vez mais fácil de se ver grandes voçorocas e gado passando fome.
            Mas isso não vai durar muito mais tempo, a situação está ficando crítica e o pecuarista que não passar a investir na propriedade e recuperar o solo não conseguirá mais se sustentar na atividade e vai arrendar suas terras pra cana-de-açúcar, eucalipto, ou qualquer grande empresa que ofereça um pouquinho de dinheiro.
            Quem quiser evitar que isso aconteça, busque recuperar seus pastos aos poucos. Comece com 5 ou 10% da área e vá aumentando anualmente. Na medida que aumenta a quantidade de pasto em bom estado, o resto da fazenda que estava “rapado” vai desafogar e o rebanho pode começar a aumentar.
            É muito importante se atentar ao fato de que não é porque um pasto foi formado no ano anterior que ele pode ser esquecido. As adubações e correções de manutenção são tão importantes quanto as de formação e se forem deixadas de lado o pasto volta a se degradar em poucos anos.

            Aumentando gradativamente a área em recuperação e mantendo as que já foram recuperadas, em questão de 10 anos o pecuarista terá toda sua área produzindo em níveis ideais e seu rebanho com certeza terá aumentado em tamanho e em produtividade. O próprio rebanho acaba por pagar os custos da recuperação e as sobras de dinheiro no fim do ano ficam mais gordas no fim desse período.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Brachiaria Decumbens

A Brachiaria Decumbens foi a primeira espécie de brachiaria introduzida no Brasil e graças a sua rápida adaptação às condições de solo e clima daqui foi muito disseminada.
Possui habito de crescimento decumbente, boa adaptação a solos de baixa fertilidade, rápido estabelecimento e excelente domínio sobre invasoras (isso quando bem manejado, porque pasto nenhum quando rapado aguenta competição com invasoras).
Diferente da Humidicula, a Decumbens não suporta solos mal drenados, mas suporta bem a seca.
Outra característica negativa desse cultivar é sua suscetibilidade à cigarrinha das pastagens, um inseto pequeno que ataca a parte aérea e raízes da planta, prejudicando bastante a produção de forragem. A cigarrinha pode ser identificada na pastagem por uma espuma branca característica que protege as ninfas (insetos jovens) na base da planta.
A implantação do canteiro de Brachiaria Decumbens foi bem mais rápida que a de humidicula. Com cerca de 40 dias a gramínea já havia alcançado a altura recomendada pela EMBRAPA para o primeiro pastejo (entre 20 e 30cm), e com cerca de 30 dias após o primeiro corte já foi feito o segundo.

Algumas fotos:
1) Canteiro com 30 dias


2) Primeira roçada (04/02/2014)



3) 30 dias após a primeira roçada (05/03/2014)


4) Segunda roçada (07/03/2014)


5) 13 dias após a segunda roçada (20/03/2014)

          6) Espuma da cigarrinha (foto da internet):


quinta-feira, 20 de março de 2014

Habito de crescimento em gramíneas forrageiras.

O hábito de crescimento de uma gramínea é basicamente a forma que a parte vegetativa da planta se desenvolve e é um quesito muito importante a ser analisado na implantação de uma pastagem, uma vez que pode influenciar diretamente na alimentação dos animais que irão ocupa-la.
São basicamente quatro tipos de crescimento que existem em gramíneas forrageiras: decumbente, estolonífero, em touceiras e rizomatosas.
As plantas de crescimento estolonífero possuem crescimento rasteiro e se multiplicam por estolões. Esses estolões são ramos que vão avançando horizontalmente e rente ao solo e vão enraizando. Plantas com esse tipo de crescimento costumam, em boas condições, fechar a área por completo, não deixando espaços entre as plantas. O exemplo mais comum de crescimento estolonífero é a Brachiaria Humidicula.
O crescimento decumbente é caracterizado por um bom desenvolvimento inicial das plantas que acabam se prostrando ao solo e fechando por completo. O exemplo mais conhecido de planta que apresenta esse habito de crescimento é a brachiaria Decumbens.
As plantas com desenvolvimento em touceiras tendem a crescer verticalmente formando touceiras que costumam deixar o solo a mostra. Essa característica faz com que elas não sejam recomendadas para áreas com grande declividade, pois a possibilidade de ocorrer erosão é maior do que se utilizar as plantas de habito estolonífero ou decumbente por exemplo. A grande vantagem desse habito de crescimento é que normalmente são plantas com grande produção de forragem por área. As gramíneas mais conhecidas que apresentam crescimento em touceiras são o brizantão (Brachiaria Brizantha CV. Marandu) e a Mombaça (Panicum Maximum CV. Mombaça)
Por fim, o habito de crescimento rizomatoso, que é muito parecido com o estolonífero, porém com a diferença que os estolões se desenvolvem por baixo da terra. Eles também se deslocam horizontalmente, enraizando e fechando por completo a área. A gramínea mais conhecida que apresenta crescimento rizomatoso é o Cynodon dactylon CV. Coast Cross.

Algumas imagens de plantas encontradas no projeto:
                1)  Brachiaria Humidicula – crescimento estolonífero.


                           2)  Brachiaria Decumbens – Crescimento decumbente.


              3)    Panicum Maximum CV mombaça - Crescimento em touceira.




Montagem do projeto.

O primeiro passo para montar esse projeto foi coletar uma análise de solo da área e mandar para o laboratório. O resultado chegou em algo em torno de 10 dias e foi o seguinte:

 Com os resultados em mãos, partimos para a parte mecânica. O tratorista da faculdade passou com o arado de disco e depois com a grade niveladora:


Depois de preparado o solo colocamos as estacas e demarcamos os canteiros:




Depois de tudo pronto foi só plantar e esperar.
É claro que não foi tudo flores, tivemos imprevistos, tivemos de replantar alguns canteiros, invasoras apareceram e tiveram de ser controladas na enxada, tivemos que “irrigar” com regador buscando água em uma torneira a quase 50 metros do projeto, mas valeu muito a pena o trabalho, pois hoje podemos ver nosso sonho se realizando:

Fica ai a dica pra quem se interessar em fazer algo semelhante. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Brachiaria Humidicula

A brachiaria humidicula é popularmente conhecida por ser tolerante a solos alagados, e por isso é muito cultivada em áreas com baixa drenagem.
Outras características importantes dessa espécie é a boa cobertura do solo e domínio de invasoras (habito de crescimento estolonífero), boa adaptação a solos de baixa fertilidade, baixa necessidade em P e Ca e boa tolerância à cigarrinha das pastagens.
Os atributos negativos dessa espécie são o seu lento estabelecimento, baixa digestibilidade e dormência prolongada das sementes.
           Durante a implantação do canteiro de humidicula pudemos comprovar a demora para o estabelecimento, já que enquanto as outras espécies já haviam sofrido o primeiro corte, a humidicula ainda estava longe de fechar o canteiro
       Na foto podemos perceber ao lado direito o canteiro de Brachiaria Brizantha CV. Marandu e ao lado esquerdo o canteiro de Brachiaria Humidicula, ambos no dia 30/01, ou seja, com quase 40 dias de plantio. Pode-se perceber que o marandú estava quase no ponto para o primeiro corte enquanto a humidicula estava longe disso.
            Uma curiosidade da humidicula é que ela pode ser propagada por mudas, isso graças à grande habilidade de enraizamento dos entrenós. Isso também pode ser observado na pratica, porque quando os estolões estavam saindo pra fora do canteiro e íamos corta-los, eles estavam todos enraizando. É possível perceber aqui a grande facilidade que a humidicula tem de fechar o terreno.
           Algumas fotos do canteiro:
1         1)Canteiro com dia 24/01 (1 mês)- a maior parte são invasoras que foram retiradas manualmente.
                 
                      2) Canteiro com 2 meses – ainda longe de fechar.
a
              
               3)  Canteiro dia 17/03 – muito próximo do ideal.